quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A Canção e a Sombra

Era a segunda vez que discutiam. Íamos à fazenda, éramos só nós três no carro, e eles discutiam pela segunda vez. Quando percebi, meu pai já tinha a voz alterada e minha mãe gesticulava ora pedindo para ele falar mais baixo ora mandando-o prestar atenção na estrada. Mas ele nem baixava a voz nem tomava cuidado, porque uma vez a gente quase saiu pelo acostamento. Minha mãe gritou. Ele gritou mais alto, dizendo onde já se viu um homem não honrar o que tinha no meio das pernas.
Nessa hora, eu já estava encolhido no banco de trás, as mãos juntas apertadas entre os joelhos, os olhos bem abertos e apenas um silêncio em redor, que nem chegava a ser silêncio, porque havia um zumbido, e era como se o ar tivesse se concentrado e o som não pudesse se mover, e eu apenas visse os dois à minha frente, lentos.
De repente, o som voltou. E isso se deu quando meu pai freou o carro muito brusco. Se ela continuasse a querer defender aquele doente, ele dava meia-volta e a gente ia para casa. Aí minha mãe recostou-se no assento, acendeu o cigarro, deu uma baforada, olhou para a frente e, tentando acalmar-se, disse que por favor ele continuasse, a mãe dela estava esperando, e nós precisávamos ir.
Mãe, quero fazer xixi, eu falei. E ela voltou-se para mim e disse que eu esperasse um pouco. Meu pai mordeu o lábio inferior, eu vi pelo espelho. E vi também seus olhos, que não sustentaram os meus. Já estamos chegando, ele disse, abrandada a voz. E ligou o automóvel.
Ao lado da estrada, uma fila de árvores desnudas cercava um terreno. Fascinei-me por elas, que espetavam o ar desesperadas. Em um ponto ou outro podiam-se ver algumas folhas que resistiam ao calor. Elas estão mortas?, perguntei. Quem está morta?!, disse minha mãe. As árvores, eu respondi. E ela me falou que não, que era aquilo mesmo, na primavera estariam floridas. É, na primavera, concordou o meu pai. Que árvore é essa? Mulungu, disse minha mãe. E tentei imaginar como seriam os mulungus floridos. Mas não havia qualquer nitidez; se um deles começava a se cobrir de folhas e flores, logo retornava a imagem seca e desgrenhada. E eles eram bonitos.
Fiquei contente quando meus pais responderam que elas não estavam mortas, que floresciam na primavera. Nem tanto por causa das árvores, importando-me mais eles terem-se acalmado.

Eu quis dormir, mas vi um rio que surgiu repentino, muito fino, ao lado dos mulungus. Não dava para ver se corria, ou se andava, mas antes me parecia uma superfície parada, um espelho acompanhando a cerca morta-viva. Na escola eu havia aprendido que os rios correm. E agora me surgia aquele tão calmo. Comecei a rir, já me preparando para gozar da cara da professora, mas engoli o riso: num ponto, o espelho se estilhaçou de raiva ou de pânico. Fez uma curva e passou por entre as árvores, desaparecendo numa depressão. Ainda olhei para trás, mas não consegui ver aonde ia dar. Tive medo e resolvi que o melhor agora seria realmente dormir. Fechei os olhos com força, deitei-me estirado no banco e comecei a contar carneirinhos que logo se transformaram em mulungus de braços estendidos e cabeleira elétrica, correndo atrás do carro com as bocas abertas. Adormeci.

A casa era imponente. As portas eram altas; e as janelas, largas, todas abertas, com exceção de uma com tábuas pregadas sobre ela. No alpendre, a que tínhamos acesso por uns poucos degraus, algumas cadeiras estavam espalhadas de frente para os morros, nessa manhã encobertos de neblina. Vai chover, disse minha vó assim que chegamos. E minha mãe falou, num tom saudoso, neblina baixa, sol que racha, neblina na serra, chuva na terra. Minha vó beijou-a, beijou-me e apertou a mão de meu pai, dizendo para entrarmos.
Sentávamo-nos à mesa, quando se ouviu um grito. Meu pai baixou a cabeça, apoiando a testa com uma das mãos. Minha mãe olhou para minha vó, que disse, preocupada, está cada vez pior.
Quem está pior?, eu ia perguntando, quando uma voz muito fina deu três gritos e começou a cantar o que não consegui entender, parecendo-me apenas uma canção que poderia ser alegre, não fosse o tom esganiçado, a voz sufocada. Quem é, mãe?, perguntei. E ela deu dois tapinhas na minha mão, dizendo a curiosidade matou o gato, não era nada demais, eu queria fazer o favor de comer? Deu os tapinhas e olhou severa para o meu pai, que, eu percebi, ia falar alguma coisa, mas levantou-se, procurando o cigarro nos bolsos da calça. A vó também se levantou. E pela forma como saiu eu pensei que não queria cruzar com ela quando dobrasse o corredor, porque saiu enérgica e, mesmo estando ela de costas, pude perceber como deveria estar o seu rosto, os olhos diminuídos e os dentes à mostra. Não esquecer o nariz, que devia tremer. Uma vez a vira assim quando, em nossa casa, começou a discutir com meu pai. Não vira mais porque minha mãe me levara para a porta, dizendo para eu ir brincar. O que aceitei de pronto, largando o livro na mesa, eu estava estudando.
O corredor era estreito e tinha portas dos dois lados. Ouvi uma delas ranger, certamente quando a vó a abrira, para ranger de novo ao ser fechada. Coma o cuscuz, meu amor, está uma delícia, disse minha mãe. E eu comecei a comer, mas não pude esquecer os gritos, misturando-se agora aos mulungus que, na continuação do sonho de quando eu dormi no carro, tinham me agarrado e jogado no rio, que se movia lento comigo dentro dele, congelado, até desaparecer no abismo.

Após o café, tive sono e fui para o quarto. O corredor era comprido, as portas imensas; e as tábuas do piso rangiam. Meu avô — a vó contava isto pela milésima vez — inventara de colocar tacos no corredor havia uns dois anos, pouco antes de morrer. Era para ficar atento ao que acontecesse, nada podia lhe escapar; e não escapava: era tocar as tábuas, mesmo de passo leve, e ouvir o piso responder como se recebesse um intruso.
Fui ao quarto e dormi até me acordarem para o almoço. Minha mãe chamou-me de come-dorme. Onde se vira aquilo de ir viajar, sair de casa para visitar a avó, fugir da cidade e, no sítio, passar a manhã na cama? Iríamos embora no outro dia pela manhã. Eu não me lembrava?
Logo pela manhã voltaríamos para casa, porque meu pai tinha negócio importantíssimo para tratar. Sempre tinha esse negócio importantíssimo; todas as vezes em que viajávamos era a mesma coisa. Mas agora nem me preocupava tanto ir embora ou perder a manhã: tinha sono.
Levantei-me e fui almoçar. À mesa, vi meu pai trocar olhares com minha mãe, que olhou para minha vó como se pedisse ajuda. Elas se levantaram, chamaram o meu pai, e eu já ia me levantar, quando disseram, uns com palavras, outros com gestos, que eu continuasse comendo, ia esfriar.
A de vocês também, eu falei. E meu pai já ia se aproximar de mim, quando minha mãe disse para ele me deixar em paz.

Vai passear, a vó disse. Pra onde?, eu perguntei. Vai tirar manga do pé, ela me disse. E eu fui, sem vontade. Queria ficar na casa; durante o almoço, enquanto engolia a pulso a galinha de capoeira, ouvira, durante a conversa deles, a mesma canção angustiada da manhã. E não tinha agora vontade de sair, curioso para saber de quem era aquele som.
Peguei algumas mangas e voltei rapidamente. No quarto, deitando-me ao lado de minha mãe, que descansava do almoço, perguntei quem era que cantava tanto e não aparecia. E por que aquela janela tinha as tábuas pregadas nela.
É sua tia, meu filho; ela está louca.
Louca?
Louca.

Passei a tarde inteira tentando imaginar a tia louca. Como seria uma tia louca? E deitado na cama, olhando o teto, formou-se em minha mente uma mulher de rosto deformado e cabeleira desgrenhada como os mulungus, correndo excitada, as mãos trêmulas.

Após o jantar, havíamos comido paca e arroz de leite, eu adorava arroz de leite, fomos para o alpendre ouvir as histórias da minha vó, umas de mal-assombro, outras de fadas azuladas. Impressionou-me a da onça que virou cerca e, depois, pneu de caminhão. Pneu de caminhão? É, pneu de caminhão, disse a vó. Porque a onça era esperta e se disfarçava do que queria, cheia de artifícios para conseguir agarrar a presa que era o dono da fazenda, que tentava atravessar sua propriedade, mas havia-se deparado com a danada, um enorme pneu escondendo os dentes longos e finos como dois punhais. Tudo verdade!, a vó disse. E eu falei acredito, acredito, vó. E ria. E ela me olhava com a cara séria.
Pedi para contar uma história. E falei de uma floresta inteira de mulungus de copa desnuda, o solo úmido, de ervas subindo pelos troncos e enlaçando-os, o sol passando em réstias pelos galhos, lançando sobre o chão uma algazarra de traços.
Mas não acontece nada nessa história?, perguntaram. E eu falei que estava acontecendo a floresta, e o chão, e o sol jogando as listras no chão. A história era a floresta parada.
Disseram que não tinha graça aquela história. E depois disseram que era bonitinha, era linda, mas estava na hora de eu ir para a cama. Minha vó me beijou, minha mãe me deu um tapa no bumbum e meu pai piscou para mim dizendo que eu fosse dormir.
Já na soleira da porta, voltei-me e disse que alguém jogou um fósforo e a floresta pegou fogo. Minha vó perguntou como podia aquilo se não havia ninguém por lá. E eu falei que a pessoa estava escondida, só que a gente não via, não sabia. Até o fogo aparecer.
Fui para o quarto, mas não tinha sono. Fiquei embolando na cama, esperando o pai e a mãe, que chegaram bem depois — eu acho que foi bem depois, porque o tempo demorou a passar, e eu pude observar o quarto na penumbra, um jarro sobre a máquina de costura, enfeixando flores, duas me chamando a atenção: um lírio e uma outra que era muitas, florinhas amarelas reunindo-se em cachos, mínimas e mínimos espalhando-se no verde. Cheirei-as. Tão bonitas que não precisam ser perfumadas, pensei sobre as pequenas, e tão cheirosa e tão amarga, disse ao morder o lírio, engolindo uma das pétalas. Meus pais entraram no quarto e disseram que precisavam sair, uma senhora havia morrido na fazenda vizinha, e eles tinham de ir para o velório, iriam todos, mas eu não me preocupasse, um dos meninos do caseiro ficaria na casa até voltarem. Se eu precisasse de alguma coisa, poderia falar.
Saíram, o tempo ficou mais lento, fui ao banheiro, vi o menino adormecido na rede, voltei ao quarto, deitei-me olhando para o jarro, lembrei-me das flores amarelas de beleza sem perfume e do lírio travoso, e comecei a ter sono, já fechando os olhos, quando ouvi uma música suave, pontuada como se alguém naquele momento estivesse criando uma dança, tornando uma única coisa o corpo e a melodia.
Olhei para o alto, aguçando o ouvido, e a música se tornou mais próxima. Era a mesma voz do outro dia; era “a tia louca”. Mas não cantava esganiçada, embora se pudesse perceber a mesma agonia no ritmo arrastado, sem altos, um canto triste, um lamento. Laa-lá-lá... Laa-lá-lá. Laa-lá-lá... Laa-lá-lá. Lá-a-a-lá-lá. Lá-a-a-lá-lá. Lá-a-a-lá-lá. Lá-a-a-lá-lá. Lá-lá-ri-lá... Lá-lá-ri-lá... Lá-lá-ri-lá, lá-ri-lá, lá-lá. Lá-lá-ri-lá, lá-ri-lá, lá-lá. Lá-a-a-a-aa... lá-a-a-a-aa... Lá-ri-lá... Lá-ri-lá... Uhn-uhn-uhn-uhn-uhn... Uhn-uhn-uhn-uhn-uhn... Lá-lá-lá-lalá... Lá-lá-lá-lalá...
Levantei-me, o menino ainda dormia, e fui até o quarto da tia, encostando a cara na porta. Desequilibrei-me e pisei forte no piso de taco, fazendo barulho. A música parou. Quem é?, perguntou um sussurro, abafado como se tivesse que atravessar paredes e estofos até chegar a mim. Quem é?
Fiquei em silêncio. E assustei-me quando, após ouvir um ruído de algo arrastando-se, deram três toques leves na porta. Repetiram-nos, agora bem pausados, como se sussurando-os, para logo vir a pergunta: Tum... tum... Tum... – Quem é?
Balbuciando, eu disse que não era ninguém.
Como não pode ser ninguém? Ninguém sou eu, não sabia? Quem é?
Ninguém, tia.
Tia? Ahhh... Ti-a. Então é o meu sobrinho?
E a voz modificou-se, ora engrossando, ora novamente fina. Eles não sabem que se eu quiser posso deixar alguém entrar. Eles não sabem. Mas não diga a ninguém, entendeu? Fique em silêncio. Entendeu? Sim, eu respondi. Espere um pouco. E quando eu falar, você entra.
Pode vir.
Abri a porta, e um cheiro de perfume envelhecido me tomou de chofre. Completamente fechado, o quarto era iluminado por um castiçal colocado sobre a penteadeira e por uma clarabóia que flutuava sobre a cama larga de panos pendendo no dossel, cipós e folhas estampados no tecido fino. Ao lado do castiçal, uma bacia com uma jarra e um vaso com flores que pareciam terem sido arrumadas recentemente. Isso eu pude ver quando atravessei as cortinas; entre a porta e a cama havia inúmeras cortinas, várias camadas delas, finas e encardidas, cheirando a mofo e a perfume antigo. Quando passei por elas, e cheguei à cama, pude vislumbrar, atrás das outras cortinas que a separavam da penteadeira, uma figura magra jogando perfume para o alto e espalhando-o pelo corpo. A tia louca.
Pode sentar-se, falou. Pode sentar-se, meu menino. Então você é o filho da minha irmã? Sou. Que bom, eu sempre quis revê-lo, sabia? Você não se lembra de mim, não é? É claro que não se lembra, era um bebê, eu coloquei você nos braços, passeamos até as mangueiras. Dei banho em você! Você não se lembra, não é? É claro que não.
Falava e continuava a espalhar o perfume e eu me perguntava se aquele frasco não ia secar. Então parou e, lentamente, recomeçou a dança que eu presumira, abrindo os braços envoltos num lençol, passos para os lados, passos para a frente e para trás, sempre em frente ao espelho da penteadeira, as velas lançando sobre ela contornos iluminados, e eu envolto na sua sombra.
Gosta de dançar?
Não.
Não gosta? Por que não gosta? É tão bom, sou algo inteiro quando danço. E quando danço e canto, porque eu crio a música, eu sou a música. Dá para entender? É claro que não dá. Ah, se pudesse entender... E virou-se para mim, com os braços abertos, andando lentamente, imersa em sombra, nós dois dividindo a mesma escuridão, apenas um halo de luz envolvendo-lhe os panos. Chegou à minha frente, encostando-se às cortinas, e deixou cair o lençol que lhe cobria os braços e, muito longo, enrodilhava-se em seu corpo.
Passando pelas cortinas, chegou à minha frente, o castiçal iluminando-lhe um dos lados, e ficou parada, a cabeleira grisalha, os olhos rodeados de azul, os lábios vermelhos, e cicatrizes deixando-se perceber sob o pó espalhado nas maçãs do rosto, eu poderia cavar sulcos naquela face, construindo estradas com minhas unhas se as deslizasse sobre a maquiagem.
O peito, muito magro, era de uma palidez amarelecida, exangue como os dedos das mãos, e também os dos pés, voltados para dentro como se quisessem agarrar o próprio chão.
Deixou cair o pano, desenrodilhando-o e lançando-o para trás, e desceu os braços lentamente até cobrir o sexo. Depois, virou-se e recomeçou a dança. Suas costas, amarelecidas como o peito, também tinham cicatrizes, e também as nádegas, magras e flácidas.
De repente, soltou um grunhido, voltou-se e caminhou até a cama. Ajoelhou-se sobre ela. Eu tentei levantar-me, mas me pegou pelo braço, obrigando-me a ficar. Suas mãos eram finas e gélidas, e os olhos, que me olharam emudecidos, estavam ressequidos. Engatinhou sobre o colchão e deitou-se de bruços, as pernas abertas. Chamou-me. Por favor, disse. Vem.
Como eu não me movesse, deu um salto rápido e foi ao castiçal, apagando-o. Aproximou-se de mim e tirou lentamente minha camiseta e meu calção, beijando meu rosto e minhas pernas, meus pés. Em seguida, deitou-se novamente e pediu: vem. Estendeu a mão, tocou no meu ombro e me puxou lentamente, arrumando-me sobre seu corpo. De bruços, estendeu os braços para trás e me apertou, empinando as nádegas e gemendo. Virou-se e pôs o rosto nas minhas pernas, subindo por elas, a boca arfando, de língua estendida, movendo-se sôfrega até enfim moderar-se, agora calma e contemplante, rodeando-me, lambendo-me, aspirando-me. Ela me sugava. Olhando incessante para seu rosto, eu estremeci. Então afastou-se, deitando-se de novo, agora de costas, abrindo as pernas e me puxando para perto e me esfregando contra seu corpo. Desequilibrei-me e tentei me apoiar, quando toquei em seu pênis. A tia soltou um grito-lamento, correndo para apanhar o pano que havia jogado no chão. Enrodilhou-se novamente, em meio à luz tênue que a clarabóia projetava no quarto, e, chegando ao castiçal, acendeu-o e recomeçou a dança, espalhando mais perfume a seu redor, espalhando-o pelo lençol. Olhou para mim obliquamente, com languidez, e deu seus passos, para os lados, para a frente, para trás. Em seguida, estacou, mirando tristemente as pernas, por onde escorria um fio amarelo que descia até seu pé, criando um leito que se alargava sobre o piso, espalhando-se até infiltrar-se em algumas fendas. Peguei minhas roupas e saí do quarto, passando antes pelas cortinas, de costas, observando as sombras das flores, antúrios?, lançadas sobre o teto, as paredes, a imagem daquele ser etéreo grudando em mim, esvanecendo-se por trás dos panos, até quase se dissolver quando cheguei à porta, uma figura recortada em negro no halo de luz lançado pelas velas, umas línguas de fogo que vi quando depois adormeci, os mulungus esbraseados, girando, e a tia louca entre eles, de pernas abertas, parada sobre galhos caídos no chão, em chamas, queimando-lhe a carne em gozo e dor.